06 julho 2007

O Cemitério

Depois de ser carregado aos solavancos até o cemitério lançaram-me dentro do túmulo.
Ouvia o barulho da pá cimentando a entrada. Barulho oco.
Tanto frio que agora dava-me um calor retumbante. Não tenho mais as batidas do coração, mas meu pensamento emitia um som que ecoava naquele espaço minúsculo.
Pensei que fosse uma pessoa que sofria de claustrofobia, mas vejo que nessa situação não é tão ruim ficar num lugar escuro, apertado, sem ventilação, sem poder mover o corpo...
Minutos se passaram e enfim estava sozinho na minha última morada.
Não me recordo de como era o cemitério da minha cidade, mas agora nem faz diferença, pois estou nele do lado de dentro.
Deu para tirar um cochilo.
Seria a morte tão monótona assim? Até quando eu ficaria ali, naquela posição?
Meu Deus! Nem tinha parado para pensar num detalhe muito importante: eu veria meu corpo entrar em decomposição? Segundo os envolvidos, cheira ruim, tem aspecto horrível.
Tanto tempo vivendo para terminar daquela maneira...
Seria Deus tão limitado? Ou seria eu o privilegiado em estar ali tendo a possibilidade de experimentar todas aquelas sensações alheias a qualquer ser vivente?
Vou cochilar de novo.
E se eu perder algum fato irrelevante?
Não. Vou permanecer atento.
“Maurício”
Bem, esse é o meu nome. Seria ilusão do meu pensamento ou tinha alguém chamando por mim lá fora.
“Maurício”
Novamente. Sou cauteloso como todo bom mineiro. Não vou atender antes que me chamem por três vezes. Não é assim a crença popular?
E se eu não estiver morto? É, isso passou pela minha cabeça, sim. Ninguém nunca voltou dos mortos para contar o que acontece quando deixamos a vida. E se foi um engano? Talvez eu esteja vivo! Mas, se estivesse, provavelmente já estaria morto de novo. Ninguém consegue ficar tanto tempo sem respirar num caixão como eu estou há horas!
“Maurício”
Agora não dá mais para negar. Estão mesmo solicitando minha presença fora do túmulo.