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16 setembro 2007

A porta

Não adiantou muito.
Lucky não seria tão apaixonado como Plutão. Ele continuou latindo. Depois de um tempo acabou deitando perto de um túmulo qualquer e desistiu de implicar comigo.
Meu “anjo da guarda” apesar de ser um pouco estranho com comentários até que é bem paciente e observador. Fica olhando para mim o tempo todo esperando que eu faça alguma coisa ou pergunte algo. Eu só não sabia como fazer as perguntas, mas a vontade era fazer muitas! Bem, vamos começar do princípio: de onde começam as conversas amistosas entre pessoas que acabam de se conhecer.
“Haziel” – esse é o nome do meu protetor! Ele estranhou a demora em perguntar o seu nome, mas disse à ele que sou mais estranho do que ele imagina. “Eu sei de todas as suas manias, seus desejos, seus sentimentos!” – Claro que só poderia ser assim, afinal ele é o anjo da guarda. Sabiam que este anjo, Haziel, ajuda a obter a Graça de Deus? Pois é, eu também não. Que bom que seja assim! É um Querubim que domina a bondade, queria que eu fosse advogado, mas ajudou-me na Engenharia assim mesmo. Depois de contar-me um pouco sobre ele nem me deu tempo de questionar sobre aquilo que disse à vocês... A ausência dele em momentos da minha vida viva!
Ele caminhou até o muro no fim do cemitério e fez sinal para que eu o acompanhasse. Quando cheguei até ali, ele levantou os braços e um barulho como se a terra estivesse se abrindo.
Logo pude ver uma pequena luz nascer no muro. Foi ficando maior e maior. Quando alcançou um tamanho de um homem eu pude distinguir uma porta que se abriu automaticamente. Olhei para Haziel assustado e ele sorriu.
“Não tenha medo, vou mostrar a você onde passará o princípio de sua vida eterna!”

22 junho 2007

Contagem Regressiva

A parte da tarde foi mais lenta.
Não fazia tanto frio e as pessoas pouco se interessaram pelo passeio até aqui.
Mamãe apareceu logo depois do almoço. De óculos escuros! Dona sara estava elegante; não vestia preto, mas usava sua melhor combinação de saia e blusa. Foi assim na minha formatura, no meu casamento e, agora, no meu velório.
Rafael, o pestinha, estava correndo pelo jardim e vez ou outra escutava Juliana chamá-lo docemente de “anjo”. (!)
Uma mulher se aproximou lentamente. Tinha os cabelos presos e também óculos escuros. Chorava por mim? Era ela mesma. Tal como me recordava dela há mais de vinte anos. Denise. Meu amor de adolescência. Foi colega de minhas irmãs e por muito tempo estudaram juntas. Ela continuava charmosa e com trejeitos de mulher madura ficava ainda mais bonita.
Perdoe-me, Cecília, querida, mas não poderia deixar de relatar sobre Denise. Essa lembrança agradável de meu passado está guardada aqui, dentro de mim, porém apenas com um valor simbólico dos meus tempos de rebeldia e diversão. Somente isso.
Do outro lado do caixão, já cumprimentando minha mãe, estava um amigo de infância, talvez o único que tive e que acompanhou-me por décadas. Gustavo. Grande amigo. Passamos por aventuras e apuros que vocês nem podem imaginar! Por causa do Gustavo eu tenho uma cicatriz na perna e por minha causa ele levou a primeira surra de vara de marmelo. Minha primeira namorada foi a irmã dele e emprestei meu pai quando o dele faleceu. Sentávamos juntos na sala de aula, fazíamos dever de casa juntos, aprendemos a beber e fumar. Prestamos vestibular para engenharia na mesma faculdade. Eu passei e, infelizmente, ele precisou tentar de novo. Depois disso nos separamos. Hoje o Guto tem uma confecção na cidade.
Ele cumprimentou Cecília e os meninos. Contou algumas de nossas peripécias e depois se afastou.
De repente ouvi Leandro dizer à Marcelo que o Padre estava a caminho para encomendar meu corpo. Pronto. Era chegada a hora deixar definitivamente o convívio entre os vivos para vagar pelos obscuros caminhos que os mortos fazem.
Depois que o Padre dissesse “Amém”, eu diria “Adeus”.