13 junho 2007

O Corpo

Quando comecei sentir alguns sintomas da doença nem pude reclamar, pois já era de se esperar que aquilo tudo viria como uma onda de calor intensa e avassaladora. Meus braços e pernas começaram a ficar adormecidos e era como se um formigueiro inteiro passeasse por eles. Cócegas.
A cabeça ainda não começara a dar sinais de “defeito”, mas, o paladar deixava de aproveitar o que de bom a cozinha mineira tem e a forma com que minha mãe fazia tão carinhosa e gratuitamente bem.
No princípio eu costumava sair até o quintal e sentar-me num banco de madeira feito por meu pai ao lado da jabuticabeira. Olhava tudo e não sentia nada. Apenas apreciava o sabiá cantando, galinhas por todos os lados. O vira-latas que meus filhos acharam na estrada estava ali com seu olhar agradecido pelo salvamento. Ora essa, eu apenas o coloquei na carroceria da Saveiro e nada mais. E o pequeno Lucky estava comigo a olhar-me serenamente.
Às vezes acordava no meio da noite tendo uma dor insuportável no peito, parecia que a hora derradeira era aquela, mas depois vinha um alívio repentino para desencadear vômitos contínuos.
Logo vieram as constantes crises de delírio. Confesso que nem a cocaína mais pura tem o mesmo efeito. Antes uma overdose tivesse levado minha vida antes. Horas para remédios ultrapassavam as 24 que o dia tem. O criado-mudo parecia a vitrine da loja de doces que havia na cidade anos atrás: colorida, cheia de balas de todos os tamanhos e sabores. Remédios. O que os faz diferente do veneno? Um controlava a pressão, o azul regulava as funções intestinais, aquele maior servia para eu dormir mais relaxado e assim foram os dias.
E a cada um desses dias eu via meu corpo definhar. Mas eu levava a quase morte num ritmo lento. Quando a minha família começou a chegar uns após os outros: irmãs, irmãos, cunhados e sobrinhos, aí sim, eu comecei a desconfiar que a areia da ampulheta estava se esgotando.

2 comentários:

Anônimo disse...

krak tu é muito doido rapaz mais ta valendo vô ti acompanha pra ve no q vai dar

O Cadáver disse...

A loucura tem várias faces, Túlio.

Obrigado por acessar!