18 junho 2007

O Vácuo

Pois é. Como eu já havia dito. Não me lembro muito bem do que aconteceu na hora da morte porque as coisas ficaram um pouco confusas e minha memória falhou.
Depois que senti que não respirava mais desesperei! É, caros amigos vivos, entrei em desespero quando não senti mais os ares pelos pulmões. Fiz-me de duro, compreensivo e tranqüilo, porém na hora do "vamo vê" eu "amarelei". Não. Não foi dessa cor que eu fiquei. Por incrível que pareça eu fiquei normal! Só depois de algumas horas que notei o roxo, o preto e aí, sim, o amarelão morto. Palidez mórbida total!
Não posso relatar como foi Cecília amanhecer com o novo defunto do seu lado e nem posso descrever a tristeza de toda a família, apesar de todos estarem cansados de saber que eu morreria de uma hora para outra.
O que consigo descrever foi que permaneci durante algumas horas em transe. Não ouvia, não via e nem sentia nada ao meu redor.
Confesso que fiquei frustrado. Lógico! O mundo inteiro se pergunta se há vida depois da morte. Há mesmo! Mas não se lembrar das primeiras horas da morte é muita covardia...
Talvez seja como nascer. Alguém por acaso se lembra da hora do nascimento? O famoso "tapinha" do médico? Se alguém disser que sim, é mais lunático do que eu, então deveria estar escrevendo a própria história e não estar lendo a minha!
Deixemos de dar voltas e vamos ao que é interessante.
Esse negócio de não estar lúcido na hora da morte... Isso é vantajoso! Não passei pelo constrangimento de lembrar quem me vestiu a mortalha, a funerária provavelmente me preparou com aqueles procedimentos um tanto quanto desagradáveis...
É. Foi bom mesmo a memória falhar.
Mas esse transe deveria ter durado mais.
Passar o dia todo no velório me deixou exausto.

Um comentário:

David P. de Cerqueira disse...

Obrigado, O Cadáver! Em breve espero disponibilizar outros sonetos mais recentes e algumas versões que fiz de poemas de autoria de outros.

Vou examinar o seu blog com o vagar a que ele faz jus para também poder tecer comentários.

Mais uma vez, grato pela visita.

Cordialmente.